domingo, 15 de abril de 2012

A Moda e a Conciência.


Visitou cada vitrine e, ao achar a peça que lhe agradava consultou o preço na etiqueta e notou que haviam de ser utilizados doze peças, e então a entregaram ponteira aguçada e a conduziram ao espaço pertinente.
-Hoje existem tantas lojas conceituais! 
-Então também te encanta a possibilidade de produzir, de acordo com sua vontade e esforço o que veste! Tens a mesma sensibilidade de quem inventou tal tendência!
A garota excitou-se pela oportunidade!
 Apressou-se e voltou pesada. Vinte e quatro pares de longas orelhas presas à mão e, separando um à um ia desferindo o golpe e abrindo meio sem jeito os pontos de aproveitamento pleno com as laminas que lhe iam sendo entregues segundo as recomendações do instrutor de artesanato.
Ambos mediram a envergadura do conjunto já meio cozido; satisfeitos se desfizeram dos corpos descarnados em uma bandeja com um outro destino.
A manufatura corou um pouco do branco do vestido quanto ele a deitou sobre seus ombros, mas o sangue da prova não comoveu tanto quanto ver preparado seu protótipo de casaco e então rumou parcialmente satisfeita, ao banheiro, de onde retornou com mãos perfumadas em água de rosas e untadas na fineza de cremes, partindo para finalizar sua experiência.
Sobre a mesa de molde acertou os arremates, selecionou o forro aveludado e ricos botões dourados que se acertavam bem com a brancura lavada das lebres e terminada a empresa se convenceu de suas competências e convidou as melhores amigas para a lhe acompanhar em seu passeio vitrine.
No restaurante as convidadas pediram o de sempre; mas ela aderira recentemente à uma dieta verde...
Sua consciência não comportava mais crueldades que suas pequenas aberrações!

Anderson Dias Cardoso.

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