quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Kleine Levin Em Nagazaki...




Não seria apenas mais uma daquelas imersões sonífero- patológicas das quais vez por outra retirava do convívio a inquieta garota.
A mãe persistia outra vez, e segurava-lhe mansamente a cabeça, aplicando emplastros e incensando a fronte de acordo com os saberes sincréticos herdados da pequena aldeia da qual migrara junto ao marido e a enferma criatura dormente.
Haviam zumbidos e estrondos à distância, e soubera, por possuidores de rádio, que os céus haviam convidado os fantasmas aéreos para trazerem seus ovos de pólvora para semear corpos sem vida, fogo e fumo às cidades circundantes; das quais Hiroshima por uma grande explosão já não era!
O seu homem a deixara para morrer nos campos, e ela ainda tinha esperança que ao menos os bombardeiros trouxessem o som que espantaria os demônios que prendiam a prole à letargia!
A criança se movia vez em quando, mas em seus sonhos o corpo sufocava e se debatia livrando se paulatinamente da membrana que prendia sua matéria ao sonho, flutuou perdida por um tempo dentro de si, mas quando a lucidez a assaltou era o momento em que os três pássaros se desfizeram da carga única, para a destruição de tantos!
Não houve resistência, seja por parte de corpos, madeira ou papéis - de arroz; tudo sofria ignição instantânea, e logo se dissipava em partículas agora também contaminadas.
O que não era vencido pela onda calcinante se tornava em escombros estampados de negativos antes vivos; sem qualquer surpresa ou esforço pra se proteger do improviso!
Os nomes rodopiavam engraçadamente trágicos na mente da adormecida, e a consciência pedia pra fugir!Enola Gay, The Great Artist e, num hiato gargalhante surgira uma nomenclatura retardatária: Nescessary Evil!
Eram apenas grandes aves que confabulavam bem humoradas entre si, e diziam da surpresa do desastre que a primeira carregava ao ventre!
Elas se foram da jovem, mas as pernas mirradas se esforçavam em alcançar seu vôo, e quando já era tão próxima que permitia o toque viu que o ventre volumoso da única criatura prenhe se abrira tanto quanto seu soluçado sorriso!
E a ave desprendeu de si o a segunda cria, um  carrancudo homem obeso, irmão mais velho do garotinho que havia arrasado a cidade anterior; e os seus olhos envermelhecidos se tornaram à criança em fúria, e ele partiu tal qual a força de mil terrores à consumir as vidas!
A garota gritou outra vez, e de terceira pessoa a perspectiva lhe abriu os olhos para o fogo que as consumiria em um presente sensível, mãe e filha, e um último e inconsciente abraço.
A pele ardeu por fim; prevendo antecipadamente uns bons dias, mas ela não pôde despertar pra avisar ninguém...


Anderson Dias Cardoso.

3 comentários:

Vampira Dea disse...

Seria uma falsa Fênix?...

bjs

Menino tira essa moderação n somos robôs rsrsr

Anônimo disse...

Há batalhas dentro e fora de nós por vencer.Uma leitura intrigante que eu gostei muito de ler.

Obrigada pela visita.Venha sempre que quiser.

Beijos e boa semana.

Célia disse...

Estou sem internet, portanto, sem poder comentar seus textos. O texto descreve bem o terror da guerra, visto do angulo das vítimas mais frágeis. Gostei de ler e ser lida pelo texto!

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