domingo, 9 de dezembro de 2012

Só Um Ator Tradicional.



Não havia característica física, ou aspectos psicológicos que já não pudessem ser reproduzidos pelos novos motores gráficos e os experimentados contadores de estórias contratados pelo centésimo do cachê dos tradicionais atores não virtuais, mas eis que naquela geração disseram ainda ter surgido uma daquelas figuras carismáticas, de interpretações primorosas e excentricidades ilimitadas!
Tal figura se dotara de nome artístico imponente, e migrara há tantos anos de filmes autorais para uns poucos papéis comerciais à convite de outro tradicional diretor, e logo que seu talento evidente havia conquistado notoriedade abandonou a convivência, e  passou a filmar em ambientes isolados, visitar programas de auditório com platéia seleta e se hospedar em hotéis aleatórios, em períodos imprevisíveis, nos quais se fazia passar por um comum endinheirado, pagante por discrição!
Era carne voluntariosa, e tais caprichos e lendas em torno de sua figura vendiam materiais de culto e curiosidade ainda que há tantos anos sua presença fosse tão palpável quanto o aglomerado de bits que vieram a substituir quase totalmente o ofício de ator!
Vez em quando haviam burburinhos e suspeitas de visita da estrela em qualquer programa, e caravanas uniformizadas se deslocavam, câmera, bloco, papel e lápis em mãos; seguiam eufórico, e se excitavam com os movimentos de automóveis gêmeos, de vidros escurecidos que se embaralhavam e despejavam sósias em pontos de distração!
Aquele dia transcorria agitado, e a multidão voltava exausta ao apartamento alugado e se contentava em assistir a entrevista do desenvolto artista em suas holotelas tridimensionais!
Ele os havia enganado outra vez!
Houveram outros aprontamentos e frustrações, até que disseram ter encontrado seu corpo em um estabelecimento o qual pediu sigilo para que não fosse estigmatizado!
Morrera do mal comum dos famosos, na mesma solidão!
Dia seguinte sua história viajava em pacotes de dados, nas mais diversas formas e mídias, pelas redes neurais, e houve comoção e vendas como nunca; mas logo a engenharia gráfica o reconstruiu virtualmente, e após o luto o apego do público passou ao que não era, e logo todos cogitavam se aquele talentoso ator algum dia tivesse realmente sido gente!


Anderson Dias Cardoso.

3 comentários:

Masturbação Mental disse...

Ah que falta faz uma boa leitura. Como sempre, Anderson, você faz despertar as belas adormecidas, e os leitores afiados! Rsrs

Desculpe a ausência, estive sobrecarregado esses dias.
Até mais ler...

Masturbação Mental disse...

Anderson, dá uma passadinha no meu blog quando puder, por favor. É que mudei o título do blog. Sempre tive problemas com o título que daria ao meu blog, mas daí as coisas estão começando a fazer sentido pra mim e eu estou mais amadurecido eu acho. Ouvi uma música do Gabriel pensador e gostei, o título me chamou atenção e então pensei que daria certo com o meu blog, assim o fiz! Mas, preciso de uma opinião, sinceridade por favor! Talvez esteja agressivo, só quero saber! Obrigado e me desculpe te pedir isso!
Abração, se cuida e obrigado, desde já.

Vampira Dea disse...

Não anda fácil mesmo para nossa classe rsrsrs beijinhos

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